“Não é porque as coisas são difíceis que não ousamos fazê-las; é porque não ousamos fazê-las, que elas se tornam difíceis.” (Séneca; Filósofo Romano (anos 4 A.C. – 65 D.C.) – sobre Ética)
Foi no princípio da adolescência que eu senti os primeiros sintomas de mal-estar existencial, na altura em que se iniciaram as primeiras interrogações metafísicas, sobre o mundo e mim próprio, para as quais não tinha resposta própria e definitiva, e que se intensificaram quando deixei de me relacionar com os poucos amigos que tinha, e me enclausurei em mim próprio.
O meu mal-estar foi crescendo, à medida que o meu rendimento escolar se revelava aquém do que sentia serem as minhas verdadeiras capacidades, a partir do Ensino Secundário e mesmo depois de integrar na Universidade, e por isso decidi, por minha iniciativa, adiar os estudos e consultar um psiquiatra, na altura recomendado pelo meu médico de família. Confiei inteiramente no meu médico, no período entre 1991 e 1996. Esta parte da minha vida situa-se em França, onde vivi entre 1967 e 1996, tendo nascido em Lisboa, no mesmo ano em que emigrei.
Depois de regressar definitivamente a Portugal, em 1996, para viver em Lisboa, e na sequência da primeira grande crise da minha doença – na altura, ainda por diagnosticar – conheci a Dra. Paula Duarte, que se propôs, no final do primeiro internamento, continuar a acompanhar-me. Ela foi persuasiva, por isso aceitei a sua sugestão e passei a ser seguido no seu consultório.
Apesar de saber, desde o início do tratamento com a Dra. Paula Duarte, que tinha uma psicose e que o tratamento seria longo, só ao fim dos primeiros sete anos de acompanhamento, durante os quais tive mais um internamento, que durou quinze dias, me confrontei com o diagnostico de esquizofrenia, mas nunca desisti, tendo tido sempre o seu apoio, nos piores momentos da minha vida, durante estes vinte e quatro anos, durante os quais me entreguei totalmente aos seus cuidados.
Durante este longo período, imbuído de um sentido de busca pessoal, dediquei-me ao desporto, de corpo e alma, e à leitura de dramas - onde encontrava experiências psicológicas comparáveis às minhas -, na tentativa de compreender a origem da minha doença. E assim, impunha ao meu dia a dia um ritmo construtivo, contrário aos efeitos devastadores da minha doença crónica.
Hoje em dia considero-me em recuperação, o que significa ter descoberto uma nova forma de ser, para além (ou apesar) da doença.
“Enquanto adiamos as coisas, a vida passa.” (Séneca – sobre o valor da vida sem existência própria)
- Paulo J.C, Coimbra (Arganil)