Pandemia e Psiquiatria

fev-2021

Perguntas & Respostas

(P) No meu caso, que nunca recorri a um psiquiatra, que sintomas me devem fazer procurar um médico dessa especialidade, nesta altura?

(R) Deve procurar a ajuda de um médico psiquiatra nas seguintes situações.

• Se tem sintomas de ansiedade, como dificuldade em relaxar, cansaço, irritabilidade ou dificuldades de concentração e memória.

• Se tem sintomas depressivos, como tristeza, desânimo, perda de energia, vontade de se isolar ou alterações do sono.

• Se tem preocupações ou atitudes que os outros consideram excessivas, como medo intenso de se contagiar, recusa ou resistência em sair de casa, marcada alteração das suas rotinas (p. ex. dormir durante o dia e passar longas horas no computador, durante a noite) ou aquisição de novos hábitos (p. ex. limpeza de tudo o que entrar na sua casa)

• Se a sua vida mudou radicalmente desde que presenciou grande sofrimento ou perdas humanas.

Estas são as doenças mentais mais comuns e também aquelas que afligem a maioria das pessoas que necessitam de cuidados de saúde mental, presentemente.

(P) Nesta altura, é melhor fazer a consulta à distância?

(R) A forma como a consulta é realizada depende da preferência do doente, uma vez que as consultas presenciais se realizam atualmente com condições de segurança para todos os intervenientes. Sempre que possível, é desejável que a primeira consulta seja feita face a face.

(P) Devo consultar um psiquiatra ou um neurologista?

(R) O psiquiatra é o médico que se especializou no reconhecimento e tratamento das perturbações mentais. Estas são doenças que, apesar do sofrimento que condicionam, não se diagnosticam com base nos exames com que os neurologistas estudam as doenças do cérebro (p. ex. exame físico, eletroencefalograma, TAC ou ressonância magnética), nem se tratam com os métodos que habitualmente utilizam.

(P) É preferível consultar um psiquiatra ou um psicólogo?

(R) O psiquiatra é o médico que se especializou no reconhecimento e tratamento das perturbações mentais. O psicólogo é um profissional que, se trabalhar no ramo da saúde, pode colaborar no diagnóstico e /ou no tratamento das doenças mentais. Ambos os profissionais podem contribuir para reduzir o seu sofrimento emocional.

(P) Quem faz o meu diagnóstico?

(R) O diagnóstico é a parte mais desafiante do trabalho de um médico. O termo diagnóstico deriva da palavra grega diagnostikós, que significa “capaz de discernir.” A primeira responsabilidade de um médico é não fazer mal a quem o procura e, consequentemente, ser capaz de discernir se existe ou não doença (para não tratar uma doença inexistente) é uma parte fundamental do seu trabalho. A segunda tarefa do médico é destrinçar qual é a doença. Se não sabe que tipo de mal o aflige, deve sem dúvida procurar um médico, pois o diagnóstico é uma competência específica dos médicos.

(P) Como sei se preciso de tratamento?

(R) Depois de clarificar se existe doença, é preciso definir se a doença necessita de tratamento, porque algumas patologias remitem espontaneamente. Finalmente, se existir doença, é fundamental definir qual o melhor tratamento para cada doente específico, em função dos sintomas que ele apresenta e da intensidade do seu sofrimento, mas também de outros aspetos importantes, como por exemplo ter ou não outras doenças, concomitantemente.

(P) Um psicólogo não compreende melhor o meu sofrimento?

(R) Não. A capacidade de compreender e mitigar o sofrimento de outro ser humano depende de muitas variáveis, sendo o conhecimento sobre as várias doenças, o número de anos de treino e de prática e até a própria experiência de vida de um profissional, fundamentais para determinar essa capacidade. A interpretação da experiência pessoal da doença mental, feita por um médico compassivo, constitui uma parte essencial do que é ser psiquiatra.

(P) Para melhorar, tenho de sofrer?

(R) Não. Presentemente, os tratamentos biológicos diminuem a duração e a intensidade dos sintomas e consequentemente encurtam o sofrimento emocional, de forma muito mais expressiva que a psicoterapia e são, na sua maioria, bastante cómodos de efetuar. É também verdade que a psicoterapia pode ajudar a consolidar as melhorias alcançadas inicialmente. Por outro lado, nalgumas situações, pode haver uma intensificação transitória do sofrimento, antes de se alcançarem melhorias relevantes; isso acontece, em particular, quando são fundamentais mudanças de vida profundas, como as que se operam por vezes, durante um acompanhamento longo. É costume dizer que, para grandes males, são precisos grandes remédios; se pensarmos em doenças graves como o cancro, por exemplo, percebemos que, às vezes, são necessários métodos mais cruentos de tratamento, como a cirurgia ou a quimioterapia, para poder extirpar ou eliminar a doença. No caso da Psiquiatria, a devolução de limites ao doente é muitas vezes apreendida por ele como uma falta de compreensão pelo seu sofrimento, o que não é verdade.