(P) O que é um hospital de dia de Psiquiatria?
(R) À semelhança dos hospitais de dia de outras especialidades médicas, na Psiquiatria alguns tratamentos têm de ser realizados de forma intensiva, no hospital, porque exigem recursos, humanos e/ou materiais, que não existem no domicílio dos doentes. Frequentemente o hospital de dia recebe casos de difícil gestão em ambulatório, nos quais a funcionalidade do doente está bastante comprometida.
(P) Que tipo de doentes é que frequenta os hospitais de dia de Psiquiatria?
(R) O grupo de doentes de um hospital de dia pode ser mais ou menos heterogéneo, variando quanto ao tipo de patologia e também quanto à fase da doença.
Os hospitais de dia podem ter utentes com o mesmo tipo de problemática, como por exemplo as perturbações do comportamento alimentar, ou podem incluir diversos tipos de patologias e consequentemente de doentes, que vão desde os doentes mentais crónicos, até àqueles que têm fundamentalmente perturbações de personalidade.
Podem ainda incluir doentes em recuperação, da fase aguda da doença, ou doentes crónicos, estabilizados.
Assim sendo, o grupo de doentes é bastante variável, mas sempre constituído por pessoas com diversas idades e diferentes níveis de escolaridade e de atividade profissional.
(P) O que significa ter doentes em várias fases do tratamento?
(R) Os hospitais de dia de Psiquiatria podem estar mais vocacionados para a convalescença, isto é para a estabilização dos doentes que tiveram recentemente alta do internamento ou pode ter um enfoque mais reabilitativo, no caso de lhe serem referenciados sobretudo doentes mentais crónicos.
O hospital de dia pode ainda incluir aqueles doentes em que o tratamento habitual em ambulatório se revela insuficiente para a sua melhoria.
(P) Quem é que deve fazer tratamento em hospital de dia de Psiquiatria?
(R) Os pacientes que, em consequência da sua doença ou problema de saúde mental, necessitem de tratamentos que tenham um caráter extraordinário, que sejam mais intensivos ou que sejam aplicados de forma combinada; isto porque ou não se regista uma evolução relevante com o tratamento habitual (disponibilizado nas consultas) ou os doentes têm baixo funcionamento à data da referenciação para o hospital de dia (não tendo porém uma situação clínica tão aguda que exija o seu internamento).
(P) Existem limitações de acesso por causa da área de residência do doente?
(R) No local em que trabalho, não. Podem no entanto existir limitações de ordem prática, uma vez que o doente tem de se deslocar diariamente ao hospital e por isso tem de morar relativamente perto do mesmo ou tem de dispor de meios de transporte que lhe permitam chegar lá.
(P) Existe alguma outra limitação no acesso a essa modalidade de tratamento?
(R) Sim. A referenciação deve ser feita por um profissional de saúde. Habitualmente é quem acompanha o doente, em consultas ou durante o seu internamento, que faz esse encaminhamento.
(P) Existem critérios de exclusão para este tipo de tratamento?
(R) Sim. Há vários quadros clínicos que não têm indicação para esta modalidade de tratamento. A demência ou as perturbações do comportamento devidas ao uso de substâncias não têm indicação para este tipo de tratamento nos serviços de Psiquiatria (os centros de dia e as comunidades terapêuticas são as alternativas, respetivamente, para as situações clínicas acima referidas).
(P) É possível conciliar o tratamento no hospital de dia com um trabalho ou um curso?
(R) A conciliação do tratamento com outra atividade depende do horário da mesma, uma vez que não deve haver sobreposição entre ambos. Se existir competição entre os dois, é pouco provável que se registem melhorias com o tratamento no hospital de dia de Psiquiatria.
(P) Mas o objetivo do hospital de dia de Psiquiatria não é ajudar as pessoas a realizarem os seus projetos de vida?
(R) É, sem dúvida, esse o objetivo ultimo do HD. Aumentar os períodos de estabilidade clínica e, consequentemente, o bem-estar da pessoa doente, permite reabilitá-la, ajudando-a a concretizar os seus projetos e tornando-a mais participativa na vida da sua família e da comunidade em que está inserida. Para que isso seja possível, é necessário tempo e isso pode implicar reduzir as horas de trabalho e/ou de estudo, temporariamente.
(continua)